20 de agosto de 2013

Agricultura sem veneno

     Seria possível praticarmos uma  agricultura sem veneno, defensivo agrícola, agroquímico ou agrotóxico? 
     Só a produção doméstica, de subsistência, pois o cultivo comercial/empresarial  e até mesmo familiar, necessita a utilização do controle de pragas e doenças, para que se atinjam patamares mínimos de volume, produtividade e qualidade comercial.
     A produção de alimentos, vestuário e bioenergia não é viável, sem  a perspectiva de quantidade e qualidade.
     Pragas e doenças ameaçam a produtividade das lavouras em todo o mundo. Na busca incessante de controle desses  organismos danosos, produtores recorrem ao uso de agrotóxicos.
     Na ciência agronômica considera-se  que  insetos, bactérias, vírus, fungos, ácaros ou plantas invasora somente podem ser considerados como praga se causarem danos econômicos.
     Isso acontece porque na natureza os organismos vegetais servem de alimento ou substrato aos insetos, bactérias, vírus, fungos e ácaros que se reproduzem no limite estabelecido por seus predadores naturais.
     Quando, por qualquer motivo, rompe-se o equilíbrio do ecossistema, altera-se a dinâmica das populações envolvidas naquela cadeia alimentar.
      Temos relatos de agricultura há cerca de 10 mil anos, quando os habitantes da época cultivavam os deltas fluviais.
     Pragas e doenças são relatadas desde essas remotas civilizações. Gafanhotos nas plantações, pestes nos rebanhos e piolho em animais e humanos  são referidos entre as dez pragas bíblicas do Egito.
     Cinzas de madeira, partes de plantas e alguns minerais foram os primeiros defensivos agrícolas.
     A partir de 1850, quando a população humana atingiu seu primeiro bilhão, alguns produtos químicos, como o arsênico e o mercúrio, começaram a ser utilizados. 
     Na década de 30, quando atingimos  2 bilhões de habitantes, foi descoberta  a ação inseticida do DDT(derivado do cloro), utilizado na saúde pública para combater os insetos transmissores de doenças.
     As propriedades inseticidas do DDT foram descobertas em 1939 pelo entomologista suíço Paul Müller, o que lhe valeu posteriormente o Prêmio Nobel da Medicina devido ao uso do DDT no combate à malária.
     O DDT foi utilizado na Segunda Guerra Mundial para prevenção de tifo em soldados, que o utilizavam na pele para combate a piolhos. Posteriormente foi usado na agropecuária, no Brasil e no mundo.
     O agente laranja, uma mistura de dois herbicidas, o 2,4-D e o 2,4,5-T,  foi usado como desfolhante pelo exército dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, sendo depois utilizados na agricultura, principalmente o 2,4-D, vendido até hoje.
     Por questões de negligência e pressa para utilização, durante a Guerra do Vietnã, foi produzido com inadequada purificação, apresentando teores elevados de um subproduto cancerígeno, resíduo não mais encontrado nos produtos comerciais atuais.
     Em 1960, com a espécie humana atingindo 3 bilhões, o uso dos agrotóxicos passou a ser indispensável, com alta escala de  utilização na agricultura, como importante fator de produção.
     Em seu  livro Primavera Silenciosa, a bióloga norte-americana Raquel Carson,  em  1962,  comprovou que ovos de pingüins da Antártida continham resíduos de pesticidas clorados.
     A Suécia foi o primeiro país do mundo a banir o DDT e outros inseticidas organoclorados, em 1970, com base em estudos ecológicos. Pouco depois foi seguida por outros países, excetuando-se o uso em programas de controle de doenças.
     No Brasil, as primeiras medidas restritivas se deram em 1971, que proibiu a fabricação e comercialização de DDT e BHC para combate de ectoparasitos em animais domésticos no país, obrigando os fabricantes a recolherem os produtos, mas isentou os produtos comerciais indicados como larvicidas e repelentes de uso tópico e proibiu em todo o território nacional o uso de inseticidas organoclorados em controle de pragas em pastagens.
     Na década de 80, o Rio Grande do Sul aprovou a Lei número 7.747/82, que definiu a distribuição e comercialização de todo e qualquer produto agrotóxico e outros biocidas, no âmbito do nosso Estado, estar condicionada a prévio cadastramento dos mesmos, perante o Departamento de Meio Ambiente da Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
     Esta lei manteve a proibição do uso de agrotóxicos organoclorados, assim como a obrigatoriedade do receituário agronômico.
     Convém lembrar que muitos dos princípios ativos utilizados  como agrotóxicos, também são medicamentos humanos e animais, diferindo apenas a formulação e concentração.
     Milhões de vidas tem sido salvas da verminose, das doenças fúngicas, das bacterioses e viroses, além do controle das pragas domésticas que geralmente são transmissores e vetores.
     Hoje somos mais de 7 bilhões de bocas que  esperam,  no mínimo, consumir  três refeições diárias, além da necessidade de vestuário (linho, algodão, lã) e produção de bioenergia (etanol e biodiesel).
     As safras brasileiras tem atingido cada safra que passa, produções  recordes, sendo que para que esses números ocorram, torna-se  necessário cada vez mais a utilização  de insumos modernos, menos poluentes e mais eficientes.
     No Rio Grande do Sul a produtividade das principais culturas teve um sensível incremento a partir da revolução verde com o emprego de novos insumos e novas técnicas. Tomando por base os anos 70 até os dias de hoje o milho aumentou 133%, a soja 100%, o trigo 150 e o arroz 85%.
     Graças ao desenvolvimento tecnológico, nos últimos 40 anos  observou-se significativa  redução, ao redor de 90%, das doses médias de utilização de  inseticidas, fungicidas e herbicidas aplicados nas lavouras.
     Antes aplicando  vários litros ou quilos de produto  por hectare, hoje o produtor utiliza alguns milímetros ou algumas gramas.
     São produtos mais concentrados, com embalagens menores, com maior seletividade e eficácia, muitos deles utilizados sob a forma de controle biológico e integrado (com produtos derivados de plantas), alelopáticos,  com efetiva utilização de biotecnologia.
     A segurança alimentar é observada e monitorada pelos consumidores cada vez mais exigentes. Se exige produtos menos tóxicos, seletivos e com baixa carência.
     O ideal seria uma agricultura  totalmente orgânica, mas estamos muito longe, por isso devemos praticar a mais racional possível. 
     Fome se elimina com agricultura forte e farta.

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